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domingo, 7 de agosto de 2011

A NECESSIDADE QUE AS PESSOAS TEM DE SE EXPOR

        Nos últimos meses tenho ficado impressionada com a necessidade que as pessoas têm de se expor, levando muitas vezes assuntos tratados em consultório para rua. Isso que ao iniciarmos um processo terapêutico, fazemos o contrato, onde é falado da importância do sigilo e que esse não é só por parte do terapeuta, mas também do paciente. No entanto, percebo que isso não está ocorrendo, por parte dos pacientes.

       Sendo assim, comecei a me questionar e conversar com algumas colegas sobre esse assunto, até para verificar se isso era um problema que estava ocorrendo só com os meus pacientes. Precisava de um termômetro, pois se isso fosse apenas com eles, seria um indicativo de que eu é que estava tendo problemas ao fazer o contrato. Caberia a mim, trabalhar isso no meu processo terapêutico ou em supervisão.

       Porém, vi que isso não era só comigo, mas que é algo que está acontecendo também com as demais colegas e deixando-as desconfortáveis, assim como eu. Comecei a pensar sobre o motivo que poderia estar por trás disso, afinal de contas, no setting terapêutico, falamos às coisas que nos incomodam, que nos magoam, nos entristecem que nos colocam muitas vezes em saia justa. Verbalizamos as nossas frustrações e procuramos buscar no inconsciente as respostas para isso e tantas outras coisas, pois esse é o espaço que temos para nos conhecermos.

     É o momento de cada pessoa entrar em contato consigo mesmo, procurando se entender, se conhecer, se aceitar. Compreender a origem de muitas coisas relacionadas à sua maneira de funcionar e, portanto, penso que isso só interessa a própria pessoa, até porque a nossa vida não é pública. Não precisamos contar para todo mundo as nossas intimidades.

     No entanto, verifica-se a necessidade que as pessoas têm de falar da sua terapia e de colocar o terapeuta fora do consultório. Não percebem que além de se exporem, de correrem o risco de as pessoas terem um entendimento errôneo sobre suas colocações, de poderem vir a fazer um julgamento errado sobre a sua pessoa, ainda expõe o profissional que lhe atende.

      Na medida em que ia pensando, fui me dando conta que hoje as pessoas têm uma necessidade muito grande de se expor nas redes sociais, nos sites de relacionamentos, nos grupos em que participam. Muitas colocam várias informações sobre sua vida, ficando totalmente expostas. Outras criam personagens para se relacionarem no bate-papo e acham isso engraçado. Alguns mal conhecem alguém e já falam de toda sua vida. Isso não ocorre só na internet, mas pessoalmente.

       Percebe-se o quanto as pessoas estão carentes, sentindo a necessidade de falar sobre as coisas que lhes angustiam, o quanto querem ser escutadas. Fico com a sensação de que muitas vezes, por trás dessa fala está um pedido de socorro, de desespero, de alguém que não consegue dizer “me olhem, me escutem, eu preciso falar, não agüento mais”.

      O não se conhecer, a falta de crítica, o não pensar, a falta de ética são coisas que contribuem para que as pessoas ajam dessa maneira, pois não conseguem refletir e entender o que significa falar dos seus conteúdos internos para os outros. Qual a dimensão que isso poderá ter, o que poderá acarretar na sua vida. Não percebem o quanto isso pode depor contra elas, por demonstrar um nível de ansiedade elevado, um ego muito inflado, vaidoso, que tem a necessidade de se mostrar para os outros, bem como a sua carência, a sua fragilidade frente a determinadas situações. Correm o risco de as informações serem utilizadas contra elas próprias. Sem falar que as pessoas parecem ter aberto mão da sua privacidade.

      Também podemos pensar que muitas vezes as pessoas falam de si e de suas coisas, pois não tem sobre o que falar, pela sua pobreza de assunto, já que não se interam muito sobre o que está acontecendo no mundo e também já perderam o hábito da leitura.

      É importante que as pessoas comecem a pensar sobre os motivos que estão levando a se expor, quais os ganhos que estão tendo com isso e reflitam sobre essa maneira de agir. Talvez assim, consigam começar a se conhecer, a entender que a partir do momento que conseguirem compreender o porquê de muitas coisas da sua maneira de agir, dos sentimentos que carrega consigo, dos seus pensamentos, verá que não tem a necessidade de falar sobre as coisas intimas de sua vida para todo mundo. Saberá eleger as pessoas certas para colocar o que lhe angustia e trocar uma idéia, mesmo que essa pessoa não seja o seu terapeuta.

Um comentário:

  1. Olá, estou com um problema muito sério quanto a isso. Tenho uma amiga casada que enfrenta sério problemas no casamento, e por isso ela esta "desabafando" e denegrindo a imagem do marido dela a todos que os cercam. Eu sou solteira estou no meu primeiro relacionamento serio agora, e por isso sinceramente as vzs não sei o como aconselha-la em relação ao casamento. Mas quanto ao fato de ela expor seus problemas ate para pessoas que ela pouco fala, gostaria de falar algo, mas não sei exatamente como.

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